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Colunista Feitosa Costa
GP1

Cartórios de Teresina foram presentes de oligarcas para clãs privilegiados


- Alô...é do cartório de registro de imóveis...?

- É sim...o que deseja?

- Moça, por gentileza, eu tenho um imóvel avaliado em R$ 66 mil e gostaria de saber qual é o percentual que devo pagar pela escritura...

- Só posso lhe dar essa informação pessoalmente, por telefone não tem condições!

- Por favor, eu só quero saber o percentual para adiantar minhas providências quando for ao cartório.

- Não adianta insistir, só pessoalmente...!

- Pois eu vou procurar outro cartório para fazer a escritura...!

- Vai quebrar a cara pois em Teresina só tem o nosso nessa região!

Travado na semana passada entre um cidadão de Teresina e uma atendente do cartório Nayla Bucar, de registros de imóveis, esse diálogo, que deixa nas pessoas de bem uma sensação de impotência e falta de assistência, expressa a situação em que vive Teresina quando o assunto é precisar de um cartório para cumprir as obrigações inerentes.

É inconcebível que uma capital só tenha um cartório de registro de imóveis para atender dois terços da cidade e foi criado quando Teresina tinha apenas 70 mil habitantes, como chegou a dizer o desembargador Machado, ao tempo em que foi presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, situação que beneficia há décadas grupos familiares privilegiados que ainda hoje atuam com arrogância e a certeza de que não terão concorrência tão cedo, mesmo que os tempos sejam outros e a população precise de serviços mais amplos e bem prestados.

Cartório no Piaui é um dos melhores negócios do mundo e pelo menos uma de suas concessões é capaz de produzir histórias tão impressionantes quanto algumas patrocinadas por Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, o alcoviteiro de Dom Pedro I que em 1822 chegou ao auge de sua influência sobre o imperador que proclamou a independência do Brasil.

Moldados para enriquecer clãs familiares que se formaram sob o signo dos privilégios concedidos numa época em que as velhas oligarquias cuidavam muito bem para que seus descendentes, numa linha de sucessão interminável, não tivessem o aborrecimento de trabalhar duro como a maioria dos mortais piauienses, os cartórios familiares são o retrato do atraso e o emblema marcante da desigualdade.

O pior de tudo é que a vontade dessas oligarquias permanece no Piauí, desafiando o tempo e o desenvolvimento, a democracia e o exercício da concorrência, como se o nosso fosse um Estado isolado em que a maioria deve nascer para chorar e a minoria privilegiada para sorrir, mesmo que seja às custas da humilhação do povo que a enriquece cada vez mais.

A efervescência de Teresina, o pulsar de sua gente e a necessidade diária não permitem mais um único cartório de registro de imóveis, administrado ainda hoje como se fora um feudo intocável de um clã "abençoado" pelo poder no passado cujos representantes agiram como verdadeiros imperadores presenteando aqueles que lhe pareciam mais fieis.

O mais certo seria a abertura de uma investigação rigorosa para mostrar ao povo como essas verdadeiras fábricas de dinheiro fácil foram concedidas a uns poucos privilegiados.

Mais cedo ou mais tarde isso terá de acontecer.

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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