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Colunista Herbert Sousa (in memory)
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A patética "beatificação" de Carlos Marighella


Reproduzo texto de José Fucs publicado na revista Época sobre a patética "beatificação" de Carlos Marighella, comento em seguida:

Imagem: ArquivoClique para ampliarCarteira de filiação de Marighella ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1945, antes de liderar a criação da ALN, o grupo guerrilheiro fundado em 1966.(Imagem:Arquivo)Carteira de filiação de Marighella ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1945, antes de liderar a criação da ALN, o grupo guerrilheiro fundado em 1966.
Uma eleição patética, realizada há poucos dias numa escola pública de Salvador, revela muito da crise de valores que assola o país. Na eleição, concluída na última terça-feira, dia 10, a dita “comunidade” do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici, de Salvador, composta em sua maioria por alunos, apoiou a mudança do nome da escola para Colégio Estadual Carlos Marighella, em homenagem ao líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), cujo real objetivo, encarado com complacência pelas esquerdas, era implantar a ditadura do proletariado no país.

Marighella, morto em 1969 pelo regime militar, derrotou o geógrafo Milton Santos (1926-2001), que se dedicou ao estudo dos processos de urbanização nos países em desenvolvimento. Agora, o resultado do pleito será encaminhado à Secretaria Estadual de Educação da Bahia e, se depender do apoio do diretor da escola, para quem a mudança representará sua “reinauguração”, ela deverá ser aprovada sem restrições.

Não vou aqui defender o general Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), que deixou a tortura correr solta no país durante seu governo (1969-1974) e teve entre seus vassalos o economista Antonio Delfim Netto, hoje venerado pelos esquerdistas de todas as correntes, inclusive pela presidente Dilma Rousseff, ela própria uma ex-terrorista, como Marighela. Não me alinho com aqueles que aceitam a tortura e a imposição de restrições à democracia, sob qualquer justificativa.

Sei, porém, que muita gente de bem defendeu e defende até hoje o regime representado pelo general Médici, por seus feitos para livrar o Brasil do comunismo e da anarquia existente no seio das Forças Armadas no início dos anos 1960. A “Revolução de 1964”, a Gloriosa, não foi apenas uma quartelada, como dizem muitos dos opositores ao regime, mas um movimento com amplo apoio social, especialmente na classe média, afetada pela inflação galopante, que roçava os 100% ao ano, e assustada com as ameaças crescentes contra as liberdades democráticas, chamadas de “burguesas” pelos comunistas, e contra a propriedade privada dos meios de produção.

Até consigo entender que o nome de Médici não encha de orgulho os estudantes de Salvador, nem o diretor do colégio em que eles estudam. Agora, daí a escolher o nome de um guerrilheiro como Marighella, que agia com base na máxima de Maquiavel, segundo a qual “os fins justificavam os meios”, para batizar a escola, há uma longa distância. É difícil aceitar a barbaridade perpetrada pelos pequenos revolucionários soteropolitanos que pretendem “beatificar” Marighella e transformá-lo em exemplo para as futuras gerações.

Entre tantos heróis brasileiros, que lutaram e lutam para fazer do Brasil um país melhor, é frustrante constatar que, para os pimpolhos de Salvador, não havia nome melhor do que o de Marighella para escolher. Poderia ser um cientista, um artista, um empreendedor ou um trabalhador que conseguiu prosperar na vida com o fruto de seu próprio suor. Ou até mesmo o quase desconhecido (ao menos para mim) geógrafo Milton Santos. Mas não. Eles preferiram prestar homenagem ao camarada Marighella, sabe-se lá por inspiração de quem.

Não dá para aceitar também o poder conferido aos adolescentes de Salvador para decidir o nome da escola. Daqui a pouco, qualquer grupelho de alunos adolescentes, num dos rincões do Brasil, vai sugerir o nome de Che Guevara para batizar sua escola. Ou então o de Mao Tsé Tung, o Grande Timoneiro, responsável pela morte de milhões de chineses durante a Revolução Cultural que ele liderou nos anos 1960. De repente, alguém também poderá reivindicar que o Instituto Rio Branco, responsável pela formação dos diplomatas brasileiros, mude de nome porque o Barão do Rio Branco liderou a dizimação de milhares de paraguaios durante a Guerra do Paraguai. Triste do país que tem como herói o senhor Carlos Marighella, ainda mais se seus admiradores forem pouco mais que crianças em processo de desmama.

Comento

Carlos Marighella foi militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e um dos principais organizadores da luta armada contra o regime militar depois de 1964. Ele morreu assassinado em 1969 em São Paulo por agentes da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops).

O terrorista iniciou a militância aos 18 anos de idade, quando se filiou ao PCB. Preso em 1936 durante o Governo de Getulio Vargas, foi eleito deputado federal constituinte em 1946 e, no ano seguinte, foi cassado. Quase 20 anos depois, foi preso novamente pelo Dops. Em 1968, fundou a Ação Libertadora Nacional (ALN).

*PESSOAS ASSASSINADAS PELA ALN, DO “HERÓI” CARLOS MARIGHELLA

- 10/01/68 – Agostinho Ferreira Lima – Marinha Mercante – Rio Negro-AM

No dia 06/12/67, a lancha da Marinha Mercante “Antônio Alberto” foi atacada por um grupo de nove terroristas, liderados por Ricardo Alberto Aguado Gomes, “Dr. Ramon”, que, posteriormente, ingressou na Ação Libertadora Nacional (ALN). Neste ataque, Agostinho Ferreira Lima foi ferido gravemente, vindo a morrer no dia 10/01/68.

- 08/05/69 – José de Carvalho – Investigador de Polícia - SP
Atingido com um tiro na boca durante um assalto a uma agência do União de Bancos Brasileiros, em Suzano, no dia 07 de maio, morreu no dia seguinte. Nessa ação, os terroristas feriram, também, Antonio Maria Comenda Belchior e Ferdinando Eiamini. Participaram os seguintes terroristas da ALN: Virgílio Gomes da Silva, Aton Fon Filho, Takao Amano, Ney da Costa Falcão, Manoel Cyrilo de Oliveira Neto e João Batista Zeferino Sales Vani. Amano foi baleado na coxa e operado em um “aparelho médico” por Boanerges de Souza Massa, médico da ALN.

- 22/06/69 – Guido Bone – soldado PM – SP

Morto por militantes da ALN que atacaram e incendiaram a rádio-patrulha RP 416, da então Força Pública de São Paulo, hoje Polícia Militar, matando os seus dois ocupantes, os soldados Guido Bone e Natalino Amaro Teixeira, roubando suas armas.

- 22/06/69 – Natalino Amaro Teixeira – Soldado PM – SP

Morto por militantes da ALN na ação acima relatada.

- 03/09/69 – José Getúlio Borba – Comerciário – SP
Os terroristas da ALN Antenor Meyer, José Wilson Lessa Sabag, Francisco José de Oliveira e Maria Augusta Tomaz resolveram comprar um gravador na loja Lutz Ferrando, na esquina da Avenida Ipiranga com a Rua São Luis. O pagamento seria feito com um cheque roubado num assalto. Descobertos, receberam voz de prisão e reagiram. Na troca de tiros, o guarda civil João Szelacsak Neto ficou ferido com um tiro na coxa, e o funcionário da loja, José Getúlio Borba, foi mortalmente ferido. Perseguidos pela polícia, o terrorista José Wilson Lessa Sabag matou a tiros o soldado da Força Pública (atual PM) João Guilherme de Brito.

- 03/09/69 – João Guilherme de Britto – solado da Força Pública – SP

(ver relato acima)

- 11/03/70 – Newton de Oliveira Nascimento – Soldado PM – Rio de Janeiro
No dia 11/03/70, os militantes do grupo tático armado da ALN Mário de Souza Prata, Rômulo Noronha de Albuquerque e Jorge Raimundo Júnior deslocavam-se num carro Corcel azul, roubado, dirigido pelo último, quando foram interceptados no bairro de Laranjeiras por uma patrulha da PM. Suspeitando do motorista, pela pouca idade que aparentava, e verificando que Jorge Raimundo não portava habilitação, os policiais ordenaram-lhe que entrasse no veículo policial, junto com Rômulo Noronha Albuquerque, enquanto Mauro de Souza Prata, acompanhado de um dos soldados, iria dirigindo o Corcel até a delegacia mais próxima. Aproveitando-se do descuido dos policiais, que não revistaram os detidos, Mário, ao manobrar o veículo para colocá-lo à frente da viatura policial, sacou de uma arma e atirou, matando com um tiro na testa o soldado da PM Newton Oliveira Nascimento, que o escoltava no carro roubado. O soldado Newton deixou a viúva, Luci, e duas filhas menores, de quatro e dois anos.

- 29/08/70 – José Armando Rodrigues – Comerciante – CE
Era proprietário da firma Ibiapaba Comércio Ltda. Depois de sua loja ser assaltada, foi seqüestrado, barbaramente torturado e morto a tiros por terroristas da ALN. Seu carro foi lançado num precipício na serra de Ibiapaba, em São Benedito, CE. Autores: Ex-seminaristas Antônio Espiridião Neto e Waldemar Rodrigues Menezes (que fez os disparos), José Sales de Oliveira, Carlos de Montenegro Medeiros, Gilberto Telmo Sidney Marques, Timochenko Soares de Sales e Francisco William.

- 14/09/70 – Bertolino Ferreira da Silva – segurança – SP

Morto durante assalto praticado pelas organizações terroristas ALN e MRT ao carro pagador da empresa Brinks, no Bairro do Paraíso, em são Paulo.

-15/04/71 – Henning Albert Boilesen – Industrial – SP
Ligado à Operação Bandeirantes, que combatia com métodos também ilegais as organizações de esquerda, foi assassinado, entre outros, por Carlos Eugênio da Paz (há depoimento deste senhor no blog). Participaram ainda dação os terroristas Yuri Xavier Pereira, Joaquim Alencar Seixas, José Milton Barbosa, Dimas Antonio Casimiro e Antonio Sérgio de Matos. No relatório escrito por Yuri, apreendido pela polícia, lê-se: “Durante a fuga, trocávamos olhares de contentamento e satisfação. Mais uma vitória da Revolução Brasileira”. Sobre o corpo de Boilesen, atingido por 19 tiros, panfletos da ALN e do MRT, dirigidos “Ao Povo Brasileiro”, traziam a ameaça: “Como ele, existem muitos outros e sabemos quem são. Todos terão o mesmo fim, não importa quanto tempo demore; o que importa é que eles sentirão o peso da JUSTIÇA REVOLUCIONÁRIA. Olho por olho, dente por dente”.

- 20/01/72 – Sylas Bispo Feche – Cabo PM São Paulo – SP
O cabo Sylas Bispo Feche integrava uma Equipe de Busca e Apreensão do DOI/CODI/II Exército. Sua equipe executava uma ronda quando um carro VW, ocupado por duas pessoas, cruzou um sinal fechado quase atropelando uma senhora que atravessava a rua com uma criança no colo. A sua equipe saiu em perseguição ao carro suspeito, que foi interceptado. Ao tentar aproximar-se para pedir os documentos dos dois ocupantes do veículo, o cabo Feche foi metralhado. Dois terroristas, membros da ALN, morreram.

- 01/02/72 – Iris do Amaral – Civil – RJ
Morto durante um tiroteio entre terroristas da ALN e policiais. Ficaram feridos nesta ação os civis Marinho Floriano Sanches, Romeu Silva e Altamiro Sinzo. Autores: Flávio Augusto Neves Leão Salles (“Rogério”, “Bibico”) e Antônio Carlos Cabral Nogueira (“Chico”, “Alfredo”.)

- David A. Cuthberg – Marinheiro inglês – RJ
A respeito desse assassinato, sob o título “REPULSA”, o jornal “O Globo” publicou:
“Tinha dezenove anos o marinheiro inglês David A. Cuthberg que, na madrugada de sábado, tomou um táxi com um companheiro para conhecer o Rio, nos seus aspectos mais alegres. Ele aqui chegara como amigo, a bordo da flotilha que nos visita para comemorar os 150 anos de Independência do Brasil. Uma rajada de metralhadora tirou-lhe a vida, no táxi que se encontrava. Não teve tempo para perceber o que ocorria e, se percebesse, com certeza não poderia compreender. Um terrorista, de dentro de outro carro, apontara friamente a metralhadora antes de desenhar nas suas costas o fatal risco de balas, para, logo em seguida, completar a infâmia, despejando sobre o corpo, ainda palpitante, panfletos em que se mencionava a palavra liberdade. Com esse crime repulsivo, o terror quis apenas alcançar repercussão fora de nossas fronteiras para suas atividades, procurando dar-lhe significação de atentado político contra jovem inocente, em troca da publicação da notícia num jornal inglês. O terrorismo cumpre, no Brasil, com crimes como esse, o destino inevitável dos movimentos a que faltam motivação real e consentimento de qualquer parcela da opinião pública: o de não ultrapassar os limites do simples banditismo, com que se exprime o alto grau de degeneração dessas reduzidas maltas de assassinos gratuitos”.
A ação criminosa foi praticada pelos seguintes terroristas, integrantes de uma frente formada por três organizações comunistas:
- ALN – Flávio Augusto Neves Leão Salles (“Rogério”, “Bibico”), que fez os disparos com a metralhadora, Antônio Carlos Nogueira Cabral (“Chico”, “Alfredo”), Aurora Maria Nascimento Furtado (“Márcia”, “Rita”), Adair Gonçalves Reis(“Elber”, “Leônidas”, “Sorriso”);
- VAR-PALMARES – Lígia Maria Salgado da Nóbrega (“Ana”, “Célia”, “Cecília”), que jogou dentro do táxi os panfletos que falavam em vingança contra os “Imperialistas Ingleses”; Hélio Silva (“Anastácio”, “Nadinho”), Carlos Alberto Salles(“Soldado”);
- PCBR – Getúlio de Oliveira Cabral(“Gogó”, “Soares”, “Gustavo”)

- 06/03/72 – Walter César Galleti – Comerciante – SP

Terroristas da ALN assaltaram a firma F. Monteiro S/A. Após o assalto, fecharam a loja, fizeram um discurso subversivo e assassinaram o gerente, Walter César Galetti, e feriram o subgerente, Maurílio Ramalho, e o despachante Rosalindo Fernandes.

- 09/09/72 – Mário Domingos Panzarielo – Detetive Polícia Civil – RJ
Morto ao tentar prender um terrorista da ALN.

- 27/09/72 – Sílvio Nunes Alves – Bancário – RJ
Assassinado em assalto ao Banco Novo Mundo, na Penha, pelas organizações terroristas PCBR, ALN, VPR, VAR-Palmares e MR-8. Autor do assassinato: José Selton Ribeiro.

- 21/02/73 – Manoel Henrique de Oliveira – Comerciante – SP
No dia 14 de junho de 1972, as equipes do DOI de São Paulo, como já faziam há vários dias, estavam seguindo quatro terroristas da ALN que resolveram almoçar no restaurante Varela, no bairro da Mooca. Quando eles saíram do restaurante, receberam voz de prisão. Reagindo, desencadearam tiroteio com os policiais. Ao final, três terroristas estavam mortos, e um conseguiu fugir. Erroneamente, a ALN atribuiu a morte de seus três companheiros à delação de um dos proprietários do restaurante e decidiu justiçá-lo. O comando “Aurora Maria do Nascimento Furtado”, constituído por Arnaldo Cardoso Rocha, Francisco Emanuel Penteado, Francisco Seiko Okama e Ronaldo Mouth Queiroz, foi encarregado da missão e assassinou, no dia 21 de fevereiro, o comerciante Manoel Henrique de Oliveira, que foi metralhado sem que pudesse esboçar um gesto de defesa. Seu corpo foi coberto por panfletos da ALN.

*Com informações do jornalista Reinaldo Azevedo de Veja.com

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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