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Memorando da CIA revela que Geisel ordenou mortes na ditadura

Um memorando da CIA revelou que o general Ernesto Geisel, que presidiu o Brasil entre os anos de 1974 a 1979 durante a ditadura militar, orientou a morte de pessoas que se opusessem ao regime

Um memorando da CIA revelou que o general Ernesto Geisel, que presidiu o Brasil entre os anos de 1974 a 1979 durante a ditadura militar, orientou a morte de pessoas que se opusessem ao regime. O ex-ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e atual coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV) afirmou que o fato é “grave”.

“A revelação choca e é muito grave. Confirma algo que se pensava: que as ordens e o modo de se fazer execução vieram do próprio presidente de República”, afirmou Gilson Dipp. “A história do Brasil se escreve através de linhas tortas. Nós estamos em um período eleitoral e o país deve ter consciência desses fatos, até para que não se tenha deturpação da vontade popular em votar ou eleger pessoas que ainda defendem esse período nebuloso”, continuou.

O deputado federal Jair Bolsonaro e pré-candidato à Presidência pelo PSL é um dos apoiadores do período militar no país. Durante a votação do impeachment da presidente Dilma, em 2016, Bolsonaro dedicou seu voto ao coronel Carlos Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi em São Paulo. Ustra foi um dos mais conhecidos torturadores do regime.

O professor Pedro Dallari, de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, disse em entrevista à Veja que as torturas não foram fatos isolados “como os militares queriam fazer crer” e que não se pode “perder a sensibilidade com o horror”. “Essas graves violações de direitos humanos na ditadura foram uma política de Estado, não foram produto, como os militares queriam fazer crer, de alguns psicopatas que agiram isoladamente”, afirmou.

O documento da CIA comprova o que já se sabia, mas os detalhes são escabrosos, muito graves. O fato de sabermos que os governos militares estavam envolvidos na repressão não nos deve fazer perder a sensibilidade com o horror”, continuou Dallari.

Número de mortos ou desaparecidos

De acordo com um levantamento feito pelo G1, seguindo os dados da Comissão Nacional da Verdade, entre o dia 1º de abril até o fim da ditadura militar pelo menos 89 pessoas sumiram ou morreram. O número pode ser maior, já que nem todas as mortes ou desaparecimentos foram registrados.

Memorando

A CIA divulgou parte de um memorando que relata o encontro entre Geisel, João Batista Figueiredo e os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino. Na época, Figueiredo comandava o Serviço Nacional de Informações (SNI) e os generais no Centro de Inteligência do Exército (CIE).

No documento, o general Milton diz que o país não pode ignorar a “ameaça terrorista e subversiva” e que métodos “extra-legais deveriam continuar a ser empregados contra subversivos perigosos”.

“Em 1º de abril, o presidente Geisel disse ao general Figueiredo que a política deve continuar, mas deve-se tomar muito cuidado para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados”, diz o documento. Outras partes do memorando seguem sob sigilo.

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