Em depoimento prestado à Justiça, o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, afirmou que alertou formalmente o Ministério da Justiça e o governo de transição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o risco de invasão aos prédios públicos da Esplanada dos Ministérios, dias antes dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
O depoimento de Saulo Cunha ocorreu durante oitiva como testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que é acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de envolvimento em uma suposta tentativa de golpe de Estado. Segundo o ex-diretor da Abin, entre os dias 2 e 6 de janeiro de 2023, foram enviados relatórios de inteligência que indicavam a presença de discursos extremistas entre os manifestantes e a existência de armamento entre alguns dos envolvidos. A divulgação dos documentos foi autorizada pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Ainda de acordo com Cunha, os alertas foram enviados de forma oficial ao governo de transição, que na época tinha responsabilidade sobre a coordenação da segurança pública até a posse plena do novo governo. A PGR questionou o Ministério da Justiça sobre o conhecimento prévio desses alertas, e a confirmação do envio reforça que havia ciência do risco antes dos eventos de 8 de janeiro.
O ex-diretor da Abin também relatou que apenas no dia 7 de janeiro o governo do Distrito Federal foi comunicado sobre os riscos. Na mesma data, Cunha procurou Marília Alencar, então chefe da Diretoria de Inteligência da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), para compartilhar os dados reunidos pela agência de inteligência.
A defesa de Anderson Torres avalia que o depoimento de Cunha evidencia falhas por parte do governo de transição e questiona a condução do inquérito por parte do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Para os advogados do ex-ministro, há um direcionamento das investigações apenas aos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro e integrantes do antigo governo, mesmo diante de provas de que os alertas foram encaminhados também à nova gestão antes da invasão à Esplanada.
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