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Polícia

Operação Inventário: neto de juíza auxiliou advogados a fraudar processo

Segundo o delegado Anchieta Nery, a juíza foi quem procurou a Justiça para denunciar o próprio neto.

O neto da juíza Maria da Paz e Silva Miranda, titular da Comarca de Demerval Lobão, identificado como Diego Gedean Miranda, foi um dos alvos presos pela Polícia Civil durante a "Operação Inventário" deflagrada nessa quarta-feira (26), nos estados do Piauí, Paraíba, São Paulo e Paraná. Ele é acusado de integrar uma organização criminosa especializada em fraudar processo de inventário em que figura como vítima a família do senhor Rui Santiago Porto, falecido em Curitiba-PR.

Diego Gedean, que é Guarda Civil Municipal na cidade de Caxias, no Maranhão, atuava na organização criminosa fazendo o manuseio de processos e agilizando despachos na comarca de Demerval Lobão, onde a avó atua. Segundo a Polícia Civil, ele foi preso em João Pessoa-PB, tentando escapar da polícia.

Foto: Reprodução/FacebookDiego Gedean Miranda
Diego Gedean Miranda

De acordo com o delegado Anchieta Nery, um dos titulares da investigação, comandada também pelos delegados Matheus Zanatta e Yan Brayner, a juíza foi quem procurou a polícia para denunciar o próprio neto.

“A magistrada, titular da comarca de Demerval Lobão, foi a pessoa que procurou a Polícia Civil para iniciar o trabalho investigativo, logo após o advogado da família verdadeira do Paraná peticionar nos autos, alertando da fraude existente. Iniciados os trabalhos investigativos, em determinado momento a equipe de investigação chegou na figura do senhor Diego Gedean, neto da magistrada. Ele figura como investigado pelo fato de ter recebido valores financeiros do senhor Delano Souza [líder da organização criminosa] para facilitar ou agilizar o despacho do processo na comarca”, disse o delegado.

Foto: Alef Leão/GP1Delegados Anchieta Nery, Matheus Zanatta e Yan Brayner
Delegados Anchieta Nery, Matheus Zanatta e Yan Brayner

Após denunciar o neto, a juíza se declarou impedida, se afastou da investigação formalmente e o seu substituto passou a ser o responsável pelas medidas judiciais determinadas durante a investigação. A Polícia Civil estipula que Diego Gedean tenha recebido pelo menos R$ 30 mil para agilizar os processos.

De acordo com o delegado Anchieta Nery, Diego Gedean não possuía qualquer vínculo com o Poder Judiciário piauiense, mas conseguia agilizar o processo na comarca de Demerval Lobão. “Ele não tem qualquer função junto ao Poder Judiciário do Piauí, não atua na comarca de Demerval Lobão, esses despachos, segundo ele e segundo os investigados que o contataram, ele conseguia pelo fato de ser familiar da magistrada, mas ele é guarda municipal em Caxias”, explicou.

O delegado relatou ainda que Diego Gedean recebeu valores, a fim de agilizar os despachos referentes ao processo. “Nas próprias palavras dele, essa foi a afirmação dele em interrogatório policial, ele recebeu valores para fazer com que o despacho andasse mais rápido, inclusive, foi confirmado em interrogatório por alguns presos de ontem. É importante frisar que o neto da juíza recebeu vários valores, se não me engano quase R$ 30 mil”, frisou.

Operação Inventário

A Operação Invetário foi deflagrada pela Polícia Civil com objetivo de cumprir onze mandados de prisão, oito mandados busca e apreensão e bloqueio judicial de bens obtidos como proveito do crime. Os mandados de prisão foram cumpridos no Piauí, São Paulo, Paraná e Paraíba.

Ao todo, quatro advogados foram presos durante a Operação Inventário, sendo três prisões em Teresina e uma no Paraná. Eles são acusados de fazerem parte de um esquema criminoso de fraudes a inventários a fim de obter patrimônio de pessoas falecidas.

Investigações

Segundo a Polícia Civil, as investigações iniciaram ainda no ano de 2020, quando a polícia foi notificada sobre uma possível fraude em um processo de inventário protocolado na comarca de Demerval Lobão. O trabalho de investigação apontou que os advogados usaram documentos falsos e narraram fatos inexistentes para ingressarem com ação de um inventário fraudulento, a fim de obter o patrimônio de um cidadão falecido no estado do Paraná.

Após o início da investigação, os policiais ainda identificaram que o mesmo grupo estava envolvido em tentativas de fraude de execuções fiscais, homologação de acordos trabalhistas e outras ações judiciais, em outras comarcas, tudo com objetivo de violar o patrimônio de pessoas falecidas.

Estima-se que as fraudes até então identificadas tenham rendido aproximadamente R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) à organização criminosa. Novos inquéritos serão instaurados para investigar possíveis novas fraudes praticadas com o mesmo modus operandi.

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