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Operação Prodígio: esposa do líder de quadrilha entregou esquema contra o Santander

Segundo o delegado Anchieta Nery, a esposa tomou a decisão após ser vítima de violência doméstica.

O GP1 apurou que a fonoaudióloga Ângela Marques de Almeida Terto, esposa do líder da organização criminosa, Anderson Ranchel Dias de Sousa, foi quem denunciou todo o esquema ao gerente do banco Santander. O grupo criminoso é acusado de aplicar golpe de R$ 5 milhões na instituição bancária apenas no Piauí. Eles e outras 28 pessoas foram presas durante a Operação Prodígio.

Segundo o delegado, durante coletiva de imprensa, na tarde desta terça-feira (05), a mulher tomou a decisão após ser vítima de violência doméstica. “A esposa [Ângela] de um dos investigados [Anderson] após sofrer violência doméstica procurou o gerente do banco para reportar o que o esposo vinha fazendo”, revelou Anchieta Nery.

Foto: Lucas Dias/GP1Anchieta Nery
Anchieta Nery

Conforme Anchieta Nery, não houve invasões a sistemas ou dados do banco, mas sim apenas manobras para “enganar” os algoritmos. “Não houve invasão de sistemas, não houve acesso à base de dados fechados, não houve nada que dependa de alto conhecimento técnico e de informática. O que eles entenderam foi que tipo de mentira o algoritmo do motor de crédito do banco acredita e aí contaram essa mentira 117 vezes”, explicou.

“Nenhum desses autores entendem quase nada de tecnologia, eles entendem de algo que infelizmente é muito forte no Brasil, que é engenharia social, eles entendem o que funciona e o que não funciona”, pontuou o delegado Anchieta Nery.

Alerta de segurança

"O banco ou qualquer instituição financeira cria vários gatilhos de segurança, como alarme de incêndio, que se tocar em determinada situação é porque tem algo a observar, então, alguns gerentes, caixas, atendentes perceberam situações pontuais no atendimento do dia a dia e reportaram para seus superiores. Mas, de repente aparece outra situação isolada em Floriano, depois na agência da Barão de Castelo Branco, depois em Amarante e depois disso a diretoria de segurança em São Paulo foi tabulando", pontuou o delegado Anchieta Nery.

Foto: Lucas Dias/GP1Delegado Matheus Zanatta na coletiva
Delegado Matheus Zanatta na coletiva

Operação Prodígio

A Superintendência de Operações Integradas - SOI, em conjunto com as Diretorias de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Civil do Piauí, deflagrou nas primeiras horas desta terça-feira (05) a “Operação Prodígio” para dar cumprimento a 25 mandados de busca e apreensão e 30 mandados de prisão temporária nas cidades de Teresina, Floriano, Amarante e Nazaré do Piauí, contra um grupo acusado de atuar em um esquema de fraude bancária que causou prejuízo de R$ 19 milhões a uma instituição financeira.

Conforme as investigações, desse valor, R$ 5 milhões são relacionados a fraudes praticadas em contas bancárias de agências localizadas no Piauí. A fraude consistia na cooptação de pessoas para abrir contas bancárias com dados falsos que levassem o banco a aumentar o limite de crédito desse cliente. Uma vez aberta a conta, a associação criminosa simulava uma série de transações bancárias para “esquentar” a conta, de forma que o banco entendesse que aquela renda declarada era legítima.

Como funcionava o esquema

Ainda de acordo com o delegado, entre os “clientes” estavam pessoas jovens que faziam cadastro dizendo ser médicas, mesmo com pouca idade. “Meninas de 19 anos faziam cadastro dizendo que eram médicas obstetras, por isso o nome da operação é prodígio. Apresentavam renda mensal de R$ 30 mil, aí faziam movimentação nessas contas para o motor de crédito do banco acreditar que recebiam R$ 30 mil, e essa pessoa, por exemplo, adquiria crédito, pedia crédito pessoal de R$ 60 mil e pagava, então, o limite subia para R$ 90 mil, até que a organização criminosa acreditava que tinha chegado no máximo de score que o banco podia dar e fazia o chamado tombamento, pegava o máximo de crédito, tirava da conta usando empresas fantasmas que foram abertas com essa finalidade e, por fim, não pagava mais", explicou Anchieta Nery.

Foto: Reprodução/InstagramAnderson Ranchel e Ângela Terto
Anderson Ranchel e Ângela Terto

"A organização então movimentava o dinheiro pelas empresas fantasmas que na frente saia rateado, parte para os líderes, parte, talvez, para alguém da instituição financeira com envolvimento e parte para os clientes que quiseram participar do esquema", afirmou Anchieta Nery.

Criação de empresas fantasmas

O delegado Anchieta Nery revelou que o empresário Ilgner Bueno e o pai dele, Raimundo Isaías Lima, criaram empresas fantasmas para movimentar o dinheiro oriundo das fraudes cometidas pela organização criminosa. “Ele criou empresas fantasmas, algumas no nome do pai para movimentar o dinheiro dessa organização criminosa, desse esquema, inclusive, uma dessas empresas chegou a receber até meio milhão de reais no período da investigação”, pontuou o delegado Anchieta Nery.

Foto: Reprodução/Redes sociaisIlgner Bueno
Ilgner Bueno

Ainda conforme o delegado, Ilgner se apresentava como pré-candidato a vereador de Amarante. “Ele morava em Teresina, mas estava se apresentando em Amarante como pretenso candidato a vereador. Ele é um cara que desde cedo se associou ao líder da associação criminosa e que tem raízes familiares em Amarante, inclusive, o pai dele foi preso nessa operação policial. Ele é um cidadão bastante conhecido na cidade”, afirmou Anchieta Nery.

“O pai foi preso porque abriu empresas fantasmas para movimentar dinheiro do crime, foram apreendidos veículos comprados com dinheiro do crime, documentos relacionados a investigação ele colaborou integralmente com a investigação”, explicou o delegado.

Esposa foi "cobaia"

O delegado Anchieta Nery disse ainda que o líder do grupo, Anderson Ranchel, iniciou o golpe usando a esposa [Ângela Terto] e que após obter êxito deu continuidade arregimentando mais pessoas. "Anderson Ranchel era líder do esquema criminoso, ele se apresentava em Teresina como vendedor de iPhone importado, praticando o descaminho. Ele fez empréstimos fraudulentos primeiro para a esposa, deu certo, aí ele passou a arregimentar muita gente, na zona sul, no Lourival Parente, Parque Piauí, Vila Irmã Dulce, na cidade de Amarante, Floriano e região, como em Barão de Grajaú, no Maranhão", expôs.

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