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Teresina - Piauí

Exclusivo: advogado Guilherme Gonçalves revela como assassinou adolescentes

Guilherme de Carvalho foi preso junto do pai e do primo, João Paulo, dono do Frango Potiguar.

O GP1 obteve, com exclusividade, o vídeo com a íntegra do depoimento do advogado Guilherme de Carvalho Gonçalves, onde ele confessa ter atirado e matado os adolescentes Anael Natan Colins Souza da Silva e Luian Ribeiro de Oliveira, revelando detalhes do crime.

A oitiva foi conduzida pelo delegado Luiz Guilherme, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), e ocorreu na manhã de 08 de fevereiro, data em que Guilherme foi preso junto de seu pai, o também advogado Francisco das Chagas, e do primo, o empresário João Paulo, dono Frango Potiguar. Os três foram indiciados e denunciados pelo Ministério Público por homicídio triplamente qualificado.

No decorrer do depoimento, que durou cerca de 17 minutos, Guilherme de Carvalho conta como abordou e dominou os garotos com a ajuda do pai até a chegada de João Paulo, dono da arma e da caminhonete utilizadas no crime, e também revela como foram os últimos minutos de vida dos dois garotos. Confira abaixo todos os detalhes do depoimento.

Como tudo começa

Guilherme conta que estava na propriedade da família na companhia do pai e da mãe, quando ouviu o seu pai lhe chamando, pedindo ajuda. “Saí e encontrei meu pai com duas pessoas, um agarrando ele de frente, tipo luta corporal, um atrás batendo nas costas dele, com chutes e ‘mãozadas’. Em ato contínuo, como qualquer filho faria, corri para prestar socorro a ele. Eu estava portando uma lanterna, ofusquei o rosto dos meninos e mandei parar, senão eu ia atirar, sem ter arma nenhuma, ato de coragem e acho que foi minha reação instantânea para ver se cessava aquela agressão. De imediato um se deitou e mandou que o outro parasse e se deitasse também no chão”, declarou.

Foto: Alef Leão/GP1Advogado Guilherme de Carvalho Gonçalves Sousa foi preso pelo DHPP
Advogado Guilherme de Carvalho Gonçalves Sousa foi preso pelo DHPP

Garotos não estavam armados

O delegado questionou se os dois meninos estavam portando alguma coisa, algum tipo de arma, e o advogado respondeu que não. “Não. Pelo menos que eu recorde, não. Não cheguei a procurar, só peguei na cintura para ver se portavam alguma arma”, colocou.

Chegada de João Paulo

Guilherme de Carvalho narra que em poucos instantes chegou sua prima – irmã de João Paulo – e seu esposo, Amauri Mendes, esse que prestou depoimento apontando os autores do crime. “Primeiro chegou o Amauri e a Marcela, foram para o terraço da minha residência e ficaram prestando socorro a minha mãe, porque ela estava muito abalada”, explicou.

Foto: Lucas Dias/GP1Dono do Frango Potiguar, João Paulo foi preso pelo DHPP
Dono do Frango Potiguar, João Paulo foi preso pelo DHPP

Em seguida, o empresário João Paulo chega no local. “Logo após chegou o João Paulo, eu chamei e ele se dirigiu para onde estava eu e meu pai e ele viu toda a ação, os dois virados de bruços eu segurando um e meu pai segurando outro, pelas mãos”, contou.

Segundo Guilherme, partiu de João Paulo a ideia de amarrar Anael e Luian. “Eu conversando com ele e ele me disse: ‘rapaz, é melhor a gente dar um jeito de amarrar esse pessoal, porque eles podem virar ou voltar e vir aqui’. Eu perguntei: ‘amarrar como?’, aí [ele] tinha uma fita em uma caixa de ferramentas, trouxe a fita e a gente amarrou os pulsos, eu e o João Paulo, meu pai não ajudou, só estava segurando”, detalhou.

Amarrados os dois adolescentes, o grupo decidiu colocá-los no carro de João Paulo para, conforme o advogado, levar para uma delegacia. “Depois a gente foi colocar os dois na caçamba do carro do João Paulo, para levar para a polícia. Eu coloquei e meu pai só prestou o auxílio e conversando, perguntou o que a gente ia fazer. Eu disse que ia levar para a polícia. Eu peguei e coloquei um em cima [do carro] e o João Paulo colocou o outro, me despedi do meu pai, pedi que ele ficasse cuidando da minha mãe, que estava bastante abalada e saímos, eu e João Paulo”, disse.

“A saída que eu vi”

Guilherme de Carvalho sustenta que a decisão de matar os rapazes só foi tomada depois que eles saíram no carro. Ele alega ainda que os garotos proferiram ameaças contra ele e sua família.

“De início não, até certa altura não tinha essa história [de matar os dois]. A história era levar para a delegacia. Só que eu estava muito desesperado, o senhor não sabe, ninguém na verdade aqui na sala sabe o que é ver um pai agredido. Ainda mais proferindo as ameaças que eles proferiram no momento da imobilização, [dizendo] que eram menores, que com certeza não seriam presos, que iriam voltar e iriam matar toda a minha família. E aquilo ficou martelando na minha cabeça a todo instante. Vinha na minha cabeça a cena do meu pai sendo agredido, eu sem saber como reagir direito, minha mãe em desespero, minha mãe já idosa, vocês viram. E eles dizendo que iam voltar, a todo instante. Essa história não sai da minha cabeça. E a saída que eu vi, infelizmente, foi matar os dois”, revelou.

Arma de João Paulo

O advogado admitiu saber que o primo João Paulo possuía uma arma de fogo, mas disse que não tinha conhecimento que a arma estava com ele naquela ocasião. Nesse momento o delegado o confrontou e perguntou como ele havia decidido matar as vítimas, se nem sabia se João Paulo estava com a arma. Guilherme argumentou que naquela situação utilizaria qualquer coisa como arma.

“Doutor, em uma situação dessas não tem como a gente saber. Não sei, alguma coisa, pegava um pau, pegava alguma coisa. A gente conversou e acordamos que o melhor seria isso. Foi quando o João Paulo disse: ‘estou com minha arma aqui no carro’. Ele disse que estava com a arma depois que a gente decidiu que era melhor resolver, porque eles iam voltar. A todo instante, até quando a gente colocou na caçamba do carro eles proferiram ameaças”, frisou.

“Peguei e atirei nos dois”

Guilherme revelou que ele mesmo pegou a arma no porta-luvas do carro e, com a ajuda do primo, desamarrou os meninos e os mandou deitar no chão. Ele conta que efetuou os disparos em seguida.

“Tiramos as fitas, soltamos as mãos e pedi que eles deitassem no chão, um para um lado, outro para o outro. Eles olharam para mim e fizeram nova ameaça: ‘vocês podem matar, mas isso não vai ficar assim’. Eu não sei o que ele quis dizer, se faz parte de facção, não sei. Peguei e atirei nos dois”, admitiu.

“Bateu o desespero”

O acusado afirma que ele e João Paulo chegaram a voltar no local, segundo ele, “para prestar algum auxílio” às vítimas, que foram alvejadas, cada uma, com apenas um tiro fatal.

“Começou a bater o desespero, bateu o desespero. Saímos de lá, com alguns minutos que saímos eu pedi para retornar, aí retornamos para ver se ainda estavam com vida, para prestar algum auxílio, porque a loucura e o desespero bateram. Infelizmente os dois já estavam mortos e a gente resolveu dar fim na arma”, colocou.

O delegado Luiz Guilherme indagou se, após o primeiro adolescente ser morto, o segundo não tentou fugir. “Não, ele ficou deitado”, respondeu.

“Já atirou antes?”

Quase ao final da oitiva, o delegado perguntou se o acusado já havia atirado antes. A princípio ele ficou em silêncio, mas logo depois falou que nunca tinha manuseado uma arma de fogo.

“Só em brincadeira de parque, arma de ar comprimido. Não [nunca atirei com arma de fogo], mas estava muito próximo, não tinha como errar, ela estando destravada, qualquer pessoa atira. Não destravei [a arma], ela estava destravada”, disse.

Não contou para o pai

Foto: Alef Leão/GP1Advogado Francisco das Chagas Sousa foi preso pelo DHPP
Advogado Francisco das Chagas Sousa foi preso pelo DHPP

Guilherme sustenta que o pai, Francisco das Chagas, só ficou sabendo do crime depois que o desaparecimento de Anael e Luian começou a ser noticiado. “Quando eu cheguei em casa não [falei], só depois, quando começaram a veicular o desaparecimento dos jovens, com a reportagens. Naquele momento o que eu menos queria era preocupar ele, já tinha visto a situação dele de ser agredido, minha mãe passando mal, eu não ia trazer problema para eles. Quando os corpos apareceram, ele perguntou e eu contei, no desespero, eu estava chorando muito no meu quarto e ele me perguntou”, detalhou.

Tortura

Ao final do depoimento, Guilherme de Carvalho negou a acusação de que teria torturado os garotos antes de matá-los. “Queria constar que em momento nenhum teve agressão, como a mídia vem dizendo. Isso aí, jamais. Até porque, se no início a intenção era eu e o João Paulo levar para a polícia, como a gente ia levar uma pessoa que tivesse agredido? É especulação sem nexo”, concluiu.

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